Bomba “burra”: golpe em postos do PCC faz pagar mais abastecendo menos


O esquema de fraudes envolvendo o Primeiro Comando da Capital (PCC) foi desmembrado pela Polícia Federal e revelou que a facção se infiltrou profundamente no segmento dos combustíveis. Além de postos espalhados por oito estados, a facção detém usinas de etanol, transportadoras, distribuidoras e até fintechs que lavam o dinheiro no centro financeiro da Avenida Faria Lima, em São Paulo. Mas existe outro mecanismo rentável e ainda pouco comentado: a chamada “fraude volumétrica”, que lesa milhares de motoristas todos os dias.
Nossa reportagem conversou com Carlo Faccio, diretor executivo do Instituto Combustível Legal (ICL), que revelou que os golpes aplicados pelas facções nos postos vão além da venda clandestina de gasolina e etanol. Veja como funciona a fraude volumétrica e saiba identificá-la.
Fraude volumétrica: como funciona a “bomba burra”
Entenda o mecanismo do crime organizado que pode fraudar a quantidade de combustível que entra no carro
Renato Durães/Autoesporte
Faccio diz que a fraude volumétrica é aplicada direto na bomba, onde os números nos mostradores não condizem com a verdadeira quantidade de combustível que entrou no carro. “Identificamos incoformidades que chegam a 31% [do volume]”, alerta o diretor. Os aparelhos usados neste golpe são chamados de “bombas chipadas” ou “bombas burras”.
Elas foram detectadas pelo “cliente misterioso”, um carro do ICL que vai anonimamente aos postos e faz aferições sobre qualidade e quantidade daquele combustível. Somente em 2025, o Instituto fez mais de 2 mil visitas a postos, gerando 700 denúncias de fraude e adulteração.
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Mostradores podem voltar a marcar os valores reais se os golpistas desativarem o software fraudulento
Reprodução
O mecanismo do crime é tão avançado que os funcionários podem controlar o acionamento das bombas burras por controle remoto e até aplicativo. Assim, se suspeitarem da fiscalização, podem desativar o software que frauda o valor dos mostradores, que passarão a exibir os números reais.
Combustível adulterado: veja como identificar e onde denunciar
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Este foi um dos golpes usados pelo PCC para movimentar R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024. Investigações em outras partes do Brasil constataram envolvimento do Comando Vermelho e até da milícia em postos clandestinos utilizando a mesma tática.
Além de engenhoso, é um golpe difícil de identificar na maior parte das vezes.
Como identificar a fraude volumétrica
Já foi vítima da fraude volumétrica? Saiba como identificá-la
Marcelo Camargo, Agência Brasil
Segundo Faccio, conhecer o volume total do tanque de combustível do veículo é crucial para tentar identificar a fraude. Dessa forma, o motorista terá um método para contestar o frentista caso os valores dos mostradores não batam.
Este é o motivo de a fraude volumétrica ser de apenas alguns poucos litros, o que torna o crime difícil de detectar e contestar — apesar de o ICL ter identificado diferenças de mais de 30% entre o mostrador e o volume no tanque, como descreveu o executivo.
Existe uma forma simples para evitar o golpe: pedir o combustível em litros, e não com base no valor. “Em vez de pedir R$ 150 de gasolina, peça 20 litros. É a melhor alternativa”, diz Faccio.
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A razão principal para isso é tentar replicar a forma como a fiscalização procede. Quando vão aos postos, os agentes pedem o combustível por quantidade, não por valor. Logo, assim que o frentista dá o comando na bomba, o sistema pode ser desativado automaticamente, sem levantar suspeita sobre o posto.
De litro em litro, o crime organizado se aproveita dos motoristas para lavar dinheiro e lucrar ainda mais. Em vários casos, o combustível é adulterado e pode prejudicar o funcionamento do motor do veículo, como Autoesporte demonstrou neste outro artigo.
Operação Carbono Oculto
Bomba lacrada pela fiscalização por conter combustível adulterado
Reprodução/ANP
Liderada pela Receita Federal, a Operação Carbono Oculto revelou que o crime organizado já participa de todo o ciclo de produção, distribuição e comercialização de combustíveis no Brasil. Constatou-se que facções ligadas ao PCC já controlam usinas de etanol — onde ocorre a adulteração —, grandes transportadoras, distribuidoras de combustível e também postos espalhados por oito estados.
Além de adulterar a gasolina com mais etanol — muito acima dos 30% permitidos na lei —, a PF descobriu que o PCC voltou a utilizar o metanol, um composto químico corrosivo e tóxico que pode causar danos sérios ao motor de um carro. Já o etanol é adulterado com adição de água à mistura.
O grupo ainda utilizava ao menos 40 fundos de investimento e até fintechs — empresas de serviços financeiros digitais — para lavar dinheiro, ocultar patrimônio e despistar transações milionárias. A investigação deflagrada na última semana mirou as seguintes empresas:
Grupo Aster/Copape: companhia que gerencia usinas, formuladoras, distribuidoras e uma rede de postos de combustíveis;
BK Bank: fintech que facilitou a movimentação de dinheiro ilícito;
Reag: gestora independente de fundos que teriam sido usados para adquirir usinas de etanol e distribuidoras da facção.
A justiça brasileira já expediu 350 mandados de busca e apreensão contra pessoas físicas e jurídicas. A investigação da Polícia Federal quanto ao envolvimento de facções criminosas no setor dos combustíveis continua.
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