Volkswagen Tera: desenhar o SUV foi mais difícil que carrões, diz designer

Conversamos com JC Pavone, criador do novo SUV de entrada; ele também antecipou detalhes dos próximos carros da marca “Não aguento mais olhar para esse carro”, brinca o chefe de design da Volkswagen nas Américas, JC Pavone, 47, ao receber Autoesporte para apresentar o Tera pela primeira vez a um grupo de jornalistas. Quem lê a frase solta pode pensar que o designer está descontente com sua criação. Muito pelo contrário.
Conheça o Volkswagen Tera em detalhes
Todos os equipamentos e as versões do novo SUV
O SUV é um de seus projetos favoritos. É que agora, às vésperas do lançamento, Pavone já está com a cabeça em projetos que só chegarão às lojas daqui a alguns anos — inclusive a primeira reestilização do próprio Tera.
“Tera foi demanda de mercado”
Segundo designer do Tera, mercado tem pedido carros “altinhos”
Renato Durães/Autoesporte
Antes que isso aconteça, o designer topou voltar no tempo para contar detalhes do desenvolvimento do SUV que chega com a missão de reeditar o sucesso de Gol e Fusca. “O ponto de partida foi o Polo. Quatro anos atrás, identificamos que o modelo de hatch compacto estava começando a saturar.”
A solução foi partir para um estilo mais robusto e parecido com o dos SUVs. “Tem o DNA da marca mais forte na dianteira, no conjunto óptico e na grade. Atrás, o objetivo era diferenciá-lo dos demais modelos.” Com lanternas pequenas e tampa do porta-malas projetada, a missão foi bem-sucedida.
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Além disso, o novo SUV carrega uma outra missão. “A linguagem visual de superfície é completamente nova, mais arredondada”, comenta. Pavone confirma ainda que os próximos lançamentos inéditos da Volkswagen seguirão essa linha, mas com características próprias.
Traseira do Tera se diferencia bastante de outros modelos da Volkswagen
Renato Durães/Autoesporte
“Os próximos carros que vão sair até 2029, e me deixa muito feliz falar isso, serão muito diferentes uns dos outros”. O executivo admite que essa é uma resposta a uma crítica do público sobre a similaridade excessiva dos produtos. “Eu não vou ficar rebatendo. Claro que é preciso ter uma linha entre eles que os identifiquem como irmãos, mas cada um precisa ter sua cara”, completa. Já com um spoiler, Pavone garante que os modelos terão formato mais arredondado e menos linhas, que, em sua visão, “envelhecem melhor”.
Desenvolvimento leva um ano e meio
Design de um carro leva um ano e meio para ser concluído
Divulgação Volkswagen
Quem vê o Tera hoje, prontinho, não imagina que há um processo exaustivo para que o projeto seja aprovado. No caso do SUV, durou um ano e meio apenas falando de design. Além disso, Pavone fez seis apresentações para a matriz, sempre com ajustes em relação à fase anterior. Em média, para cada novo projeto, são feitos dois exemplares de argila em tamanho real.
A tecnologia, claro, ajuda a reduzir a complexidade dos processos.
“Antes, eram necessários seis meses para fazer um protótipo em escala 1:1 em argila. Hoje, com os programas de modelagem, vai um mês e meio. Mas o físico ainda é muito importante para encontrar as melhores possibilidades.”
Desenho democrático
Pavone fez seis apresentações de design do Tera na matriz da Volkswagen
Divulgação Volkswagen
Talvez a maior satisfação de Pavone seja ter feito um carro de entrada, mas com elementos de modelos mais caros. “Quando eu falo em democratizar, é trazer design desejável para a base do portfólio. Meu sonho é que o cara cole o nariz no vidro da concessionária para ver o produto novo, mesmo sabendo que é um carro que ele pode comprar. Não é [um produto] inacessível”.
Durante nossa conversa, Pavone contou que desenhar modelos mais baratos, porém, tem uma série de desafios. “Temos que criar muito, com poucos recursos”. E brincou: “desenhar carro esportivo e de luxo, como Lamborghini, é a coisa mais fácil do mundo. É impossível errar. Sobram recursos”.
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Desenhos de criança
A trajetória de Pavone na Volkswagen é curiosa. Em 1991, ainda criança, ele e o irmão gêmeo, Marco (ex–chefe global de design na Volks), escreveram uma carta para Luiz Alberto Veiga, então chefe do estúdio brasileiro. Além de enviar os próprios desenhos, pediram conselhos.
Veiga não só respondeu como, anos depois, contratou os irmãos Pavone. Marco fez carreira na Europa, e JC — ou Zé, como é chamado — seguiu no nosso continente.
JC Pavone está há mais de 20 anos na Volkswagen; Marco (esq.), deixou a empresa recentemente
Ana Carolina Negri/Autoesporte
Desde 2016, ele ocupa o posto deixado por Veiga, que se aposentou após 40 anos de serviços prestados. JC Pavone, prestes a completar 24 anos na companhia, não esconde que o ex-chefe é uma de suas inspirações. E se sente honrado de ser apenas a terceira pessoa a liderar o departamento. Entre as criações do time de 60 pessoas estão Nivus e Virtus. Quando estava nos EUA, Pavone ainda desenhou Jetta e Passat.
JC Pavone tem hobbiers como design de joias e a música
Divulgação Volkswagen
O designer, claro, é apaixonado por carros. Mas, fora da empresa, tem outros hobbies. “Não sou bitolado em carro. Se eu for, não vou ter a oportunidade de fazer nada novo.” Torcedor fanático do Palmeiras, também toca violão e pratica pintura a óleo e escultura. Suas inspirações englobam arquitetos, como Oscar Niemeyer; mestres da arte, como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Caravaggio; e artistas contemporâneos, como Justin Bua, Mark Maggiori e Karim Hashid.
No fim da visita, no mesmo galpão onde estava o Tera vimos biombos escondendo futuras criações da VW. Até tentamos arrancar alguma informação de Pavone, que riu e desconversou. “Quem sabe na próxima.” Se os projetos vindouros seguirem o estilo do Tera e contarem com a paixão do chefe de design, o porvir é promissor e pode até alavancar a carreira do designer para, quem sabe nos próximos anos, ter a fácil missão, como o próprio descreve, de desenhar modelos para a Lamborghini.
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