Teste: Toyota Land Cruiser 2025 é o Bandeirante moderno que o Brasil queria

Autoesporte atravessou a Cordilheira dos Andes com o jipão moderno com estilo retrô e motor de Hilux O Toyota Land Cruiser é uma enciclopédia automotiva. Desde o seu lançamento, em 1951, o jipe foi vendido em quase 170 países de todos os continentes do mundo. No Brasil, sua história foi escrita com o icônico Bandeirante, nome dado em nosso mercado ao modelo produzido entre 1962 e 2001 em São Bernardo do Campo (SP), sendo o primeiro Toyota fabricado fora do Japão.
Autoesporte foi ao Chile conhecer o novo Land Cruiser, uma espécie de Bandeirante do século 21. O SUV está muito diferente e bem mais moderno, mas não perdeu sua essência. E nenhum teste seria mais digno desse carro do que encarar a Cordilheira dos Andes.
Falar em gerações do Land Cruiser é difícil, pois a Toyota sempre dividiu o jipão em séries no decorrer dessas mais de sete décadas, como FJ, Série 20, Série 40, Série 60, Série 100 e tantas outras. As últimas foram lançadas em agosto de 2023, Land Cruiser 250 e Land Cruiser 70 — que é exclusiva para o Japão.
A série 250 chegou ao Chile no final do ano passado como Land Cruiser Prado e com um motor que já é um velho conhecido dos brasileiros, já que é exatamente o mesmo da Hilux: 2.8 turbodiesel de 204 cv de potência e 50,9 kgfm de torque. A tração também é 4×4 e a única diferença é que o câmbio do novo Land Cruiser é automático de nove marchas — o da Hilux tem seis.
Toyota Land Cruiser Prado chegou ao Chile no final de 2024
Renato Durães/Autoesporte
A plataforma do Série 250 é a TNGA-F, derivada da arquitetura usada nas picapes grandes Tacoma e Tundra e desenvolvida para veículos construídos com carroceria sobre chassi. Por isso, o Land Cruiser Prado é enorme. São 4,92 metros de comprimento, 1,98 m de largura, 1,87 m de altura, 2,85 m de entre-eixos e 621 litros de volume no porta-malas com a terceira fileira de ocupantes desmontada, uma vez que no Chile o modelo é vendido apenas com opção de sete lugares. E são duas as versões disponíveis no país andino: VX e VX-L, a que testamos. Esta custa o equivalente a R$ 420 mil em conversão direta.
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Sou um grande entusiasta de picapes e jipes, mas reconheço que esses veículos não são práticos para a cidade. Prova disso é que nossa aventura começou ao tentar manobrar o Land Cruiser na garagem do hotel, na capital, Santiago. Movimentar o jipão ali exigiu certa habilidade (modéstia à parte), pois o porte do Land Cruiser parece ser o limite do que aquele espaço estreito permite a um veículo.
A câmera com visão 360 graus aparecendo na central multimídia de 12,3 polegadas ajudou muito nos pontos cegos. Nosso destino foi o Embalse El Yeso, em San José del Maipo, a cerca de 120 km de Santiago, já na região da Cordilheira. Em contraste com a garagem estreita, as ruas da capital chilena são largas e beneficiam esse tipo de SUV. Afinal, grande parte da frota local é composta de caminhonetes grandes, como Chevrolet Silverado e Ram 1500.
Central multimídia projeta imagens das câmeras ao redor do veículo
Renato Durães/Autoesporte
A posição elevada para dirigir e o capô quadrado, bem presente no campo de visão do motorista, são marcas registradas do Land Cruiser. Apesar dessa essência bruta e da alta capacidade no off-road, o modelo é muito moderno. O banco do motorista, confortável, tem ajuste elétrico e proporciona uma posição ereta para o condutor. Como seguiríamos pela Rota 70 e ficaríamos isolados na Cordilheira dos Andes, o compartimento refrigerado abaixo do apoio do motorista foi ótimo para guardar sanduíches e garrafas de água. O ar-condicionado digital de duas zonas se tornou outro aliado para amenizar os 35 °C do verão chileno.
Apesar da base de caminhonete e dos 2.518 kg, a dinâmica do jipão é bem diferente da de uma Hilux. A rolagem de carroceria é muito menor, devido à plataforma mais moderna, e o fôlego do motor parece ser até melhor. O zero a 100 km/h é feito em 10,5 segundos, de acordo com a Toyota, o que é muito bom para um carro desse porte. Saindo de Santiago e chegando a San José de Maipo, 40 km depois, a qualidade do asfalto piora e a estrada fica mais estreita. Por outro lado, o cenário é deslumbrante e começamos a adentrar as Cordilheiras.
Toyota Land Cruiser Prado compartilha base com a Hilux, mas tem dinâmica de condução própria
Renato Durães/Autoesporte
O último trecho, de 30 km, é uma serra bem íngreme já no meio dos Andes. Logo na subida, uma placa laranja dá o recado: “Pavimentação ruim nos próximos 10 km”. Poucos metros depois, outro alerta, dessa vez dizendo que a região corre risco de ter erupção de vulcões. Começamos a subir e ali o Land Cruiser foi mais exigido.
São seis modos de condução: Normal, Eco, Customizado, Comforto, Sport e Sport+. O grande aliado do motorista em terrenos de baixa aderência é o botão Multi-Terrain Select (MTS) no console central. Esse mecanismo ajusta a suspensão e a pressão dos freios e interfere no sistema de tração para controlar o giro das rodas de acordo com as condições do piso. Na prática, você sente uma diferença maior no comportamento da suspensão, porque enfrentamos uma variação grande entre asfalto irregular, terra e pedrisco. O balanço dentro da cabine fica bem uniforme com o MTS ativo.
Pneus para off-road e modos de condução específicos ajudam em ambientes ruins
Renato Durães/Autoesporte
A principal crítica recai sobre o vão livre em relação ao solo, de apenas 21,5 cm. Para uso off-road e sendo um SUV com carroceria sobre chassi, não é dos melhores. O ângulo de entrada é até bom, com 32°, mas o de saída, 22°, nem tanto.
Como comparação, a Hilux vendida no Brasil possui vão livre que varia entre 28,6 cm e 32,3 cm, dependendo da versão, o que é muito bom. Se você é mais conservador e torce o nariz para novas tecnologias em carros “raiz” — não gosto dessa expressão —, saiba que, na prática, elas são muito bem–vindas. Por exemplo, como o capô é longo e dificulta a visão frontal do condutor, a câmera em 360° novamente se torna uma aliada.
Você pode selecionar só a visão frontal na tela multimídia e ver tudo que vem pela frente. A resolução não é das melhores, mas o aviso de “Perigo! Área com desmoronamento de pedras” não está ali à toa. Muitas pedras caem das montanhas e, como a velocidade média na região é mais baixa, cerca de 40 km/h, a qualquer momento pode cair uma pedra (das grandes) em algum ponto cego logo à frente do motorista.
Porta-malas é razoável com a terceira fila de bancos montada
Renato Durães/Autoesporte
Nosso destino final, subindo a Cordilheira — pelo menos até onde o GPS levava —, era o belo Embalse El Yeso, um reservatório com capacidade para 250 milhões de m³ de água, a maior fonte de Santiago.
O local fica a 2.568 m de altitude e de lá, no topo dos Andes, dá para ver resquícios de neve. Portanto, o termômetro que antes marcava 35 °C despencou para menos de 20 °C, com direito a um vento bem gelado. E parece ser ali, no meio da natureza, que o Land Cruiser encontra seu habitat natural.
Sua fama de ser um carro robusto e versátil vem justamente dessa capacidade de enfrentar condições extremas do ambiente. Esteja você no Círculo Polar Ártico ou no deserto do Oriente Médio, se encontrar algum veículo rodando por lá, provavelmente será um Land Cruiser.
Teto solar é pequeno para um veículo deste porte
Renato Durães/Autoesporte
Motor 2.8 turbodiesel de 204 cv é exatamente o mesmo da Hilux vendida no Brasil
Renato Durães/Autoesporte
Descemos com o carro até a superfície do Embalse para fazer fotos. Ali, encontramos um cenário off-road que exige mais. No console central é possível selecionar a tração 4×4 (4H) e a reduzida (4L), além de bloquear o diferencial central. Assim, 50% da força é enviada para cada eixo. O modo 4L foi o melhor para sair da condição em que nos enfiamos e voltar à estrada de cascalho. Para vencer as grandes pedras na subida íngreme, a reduzida dá mais controle ao baixar a velocidade e aumentar a entrega de torque.
Depois de sair dessa situação mais desafiadora, encaramos alguns quilômetros de uma estrada de terra nem tão ruim assim, mas sempre sob o perigo das pedras que, a cada segundo, deslizavam da Cordilheira.
Toyota Land Cruiser Prado
Renato Durães/Autoesporte
A água que abastece o Embalse é de degelo, ou seja, da neve que derrete no verão. Por isso, vários trechos da estrada são cortados por correntes de água que atravessam a pista. Problema para o Land Cruiser? Que nada! A capacidade de imersão é de 70 cm e o jipão passa por esses trechos com a mesma desenvoltura do velho Bandeirante.
Dirigimos pouco mais de 150 km — sem contar a volta — e nossa aventura chegou ao fim. O minifreezer a bordo conservou bem os sanduíches, porém a fome bateu. No meio do “nada”, na descida das montanhas, encontramos uma cabana de madeira onde vendiam empanadas.
Parte da estrada fica com resquícios de água de degelo da cordilheira
Renato Durães
Pedi duas, uma de presunto e queijo, uma de carne. O fotógrafo Renato Durães, idem. O relógio marcava 19h30, mas o pôr do sol só acontece após 21h no verão chileno. O “Bandeirante Moderno” faz jus ao legado do antecessor e ainda traz muita segurança, com oito airbags, controle de cruzeiro adaptativo (ACC) e frenagem autônoma de emergência.
Cairia bem o Land Cruiser no Brasil, não? Infelizmente, parece um sonho distante. Só me resta comer as empanadas e guardar as recordações. Até mais, Cordilheira dos Andes.
Toyota Land Cruiser tem quase 5 metros de comprimento
Renato Durães
Pontos positivos: Nível de conforto, mesmo no off-road; 4×4 eficiente; padrão de tecnologia
Pontos negativos: Vão livre do solo é baixo para um SUV 4×4; câmera tem resolução ruim
No Chile, Land Cruiser Prado tem sempre sete lugares e já traz itens voltados ao off-road, como pneus de uso misto e para-barro
Renato Durães/Autoesporte
Land Cruiser Prado VX-L
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