Teste: Fiat Topolino é muito mais que um ‘brinquedo de R$ 200 mil’


Tamanho não é documento, os melhores perfumes e os piores venenos estão nos menores frascos, pequeno notável. Todos os clichês possíveis seriam adequados para começar este texto. Mas vou resistir à tentação e falar da importância histórica do Topolino, inversamente proporcional ao porte diminuto. Em 1936, foi com ele que a Fiat começou a motorizar a Itália. Duas décadas depois, veio o primeiro 500, sucesso incontestável por décadas.
Imagine, então, qual não foi o tamanho da responsabilidade dos projetistas ao trabalharem a releitura moderna do Topolino, lançado na Europa em 2023. Ainda que a versão contemporânea não tenha nascido do zero, carrega uma série de simbolismos.
A Stellantis, dona de um arsenal de fabricantes, aproveitou a base do pequeno Citroën Ami. O charme italiano veio com a troca dos painéis plásticos externos simétricos por peças vincadas que remetem ao 500 de 1955. O mesmo acontece com os faróis, redondos, e as lanternas, verticais, ambos iluminados por luzes de LED.
Faróis do Topolino são de LED
André Paixão e Marcus Celestino/Autoesporte
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Para diferenciá-lo ainda mais da versão francesa, a Fiat escolheu como única cor disponível o belíssimo — mas nada discreto — tom chamado Verde Vita. São duas variações de carroceria: convencional, com teto rígido e portas, ou Dolcevita, que traz teto retrátil de lona e uma singela cordinha nas laterais para cumprir a função de “segurar” motorista e passageiro.
Aqui, uma pausa na apresentação do Topolino para incluir o contexto da chegada dele ao Brasil. Não, a Fiat não resolveu expandir a linha de produtos com um novo modelo de entrada. Nem na Europa o Topolino tem essa função. Na Itália, custa cerca de 10 mil euros (R$ 62,4 mil, na conversão direta), praticamente o mesmo preço de um Panda (de geração anterior).
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O Topolino chega ao Brasil por importação independente pelas mãos da WBC Trade, empresa de Uberlândia (MG) especializada em veículos raros que nos cedeu com exclusividade os dois exemplares para a elaboração deste conteúdo.
O preço, ao contrário do tamanho, é superlativo: R$ 197 mil pelo Dolcevita e R$ 210 mil pela opção fechada. Com tal grana, é possível colocar uma Toro na garagem. Mesmo assim, as primeiras 20 unidades foram vendidas em apenas dois dias. O público-alvo são ricaços que comprariam um quadriciclo ou um carrinho de golfe para deslocamentos em campos fechados ou condomínios, por exemplo.
Fiat Topolino Dolcevita tem apenas 1,73 m de entre-eixos
André Paixão e Marcus Celestino/Autoesporte
Em percursos menores, uma série de elementos presentes em um carro “comum” tornam-se dispensáveis. A versão fechada tem apenas ventilação forçada. Opcionalmente, o cliente pode comprar uma caixa de som para conectar ao próprio celular e, assim, sonorizar o ambiente.
Ar-condicionado, direção assistida, regulagem de altura do banco? Nem pensar. Airbags? Também não. Tal qual a lista de itens de série, o Topolino do século 21 é diminuto. São apenas 2,53 metros de comprimento. Quer ter uma ideia desse porte? A medida é exatamente a mesma do entre-eixos de um Fiat Pulse.
Fiat Topolino tem apenas o básico: velocímetro, seletor de posições do câmbio e uma porta USB com suporte para celular
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No Topolino, o entre-eixos é de 1,73 m, a altura deste que vos escreve. De largura, são modestíssimos 1,40 m, insuficientes para evitar que os ombros dos dois ocupantes se toquem o tempo topo. Ao menos os bancos são montados em posição bastante baixa, o que garante bom espaço para a cabeça. Mas não espere muito conforto, já que os assentos de plástico mal dão conta de suportar as costas e o quadril de quem ali senta. Talvez seja hora de cortar o macarrão e o vinho…
Bancos de plástico não são confortáveis
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Lembra dos pequenos números? Aqui vão mais alguns deles. O Topolino é movido por um motor elétrico traseiro de 8 cv e 4,5 kgfm de torque. Com cerca de 500 kg, consegue chegar a 45 km/h de velocidade máxima. Para alimentar a pequena máquina, uma igualmente modesta bateria de 5,4 kWh.
Com ela, o pequenino roda até 75 km com uma carga. Para abastecer, nada de plugue Tipo 2, comum em carros elétricos. Basta encontrar uma tomada caseira. A carga completa leva quatro horas e os 3 metros de cabo (mais longos que o próprio veículo) ficam enrolados em um nicho na coluna B do lado do passageiro.
Recarga do Fiat Topolino pode ser feita em tomadas convencionais
André Paixão e Marcus Celestino/Autoesporte
O Topolino é tão singular que nem é preciso esperar ter 18 anos para poder dirigir. Na Europa, como é enquadrado como quadriciclo, pode ser conduzido por adolescentes de 14 ou 16 anos, a depender do país. Por aqui, não há homologação. Logo, é impedido de receber placas, tendo a circulação restrita a locais fechados.
Há uma pequena área para mochilas na cabine
André Paixão e Marcus Celestino/Autoesporte
Nosso contato com as duas unidades foi no estacionamento do Plaza Sul Shopping, em São Paulo. Sem querer me gabar, já dirigi alguns veículos velozes, vários com zero a 100 km/h muito abaixo dos 3 segundos e velocidade máxima na casa de 350 km/h.
Mas… sabem de uma coisa? Uma das maiores diversões que tive ao volante recentemente foi levar cerca de 10 s para chegar aos 45 km/h de velocidade máxima no estacionamento vazio. O torque não é abundante, mas é suficiente para uma discreta cantada dos pequenos pneus dianteiros com rodas de 14 polegadas.
Fiat Topolino Dolcevita tem teto de lona e cordinha no lugar das portas
André Paixão e Marcus Celestino/Autoesporte
A direção, como dito antes, não tem assistência. Mas não faz falta, mesmo em manobras. É muito mais leve do que a do Chevrolet Celta, no qual aprendi a dirigir anos atrás. A ausência de portas também não dá sensação de insegurança. Porém, abusar da confiança ao fazer curvas em velocidades mais altas pode custar caro, como mostra o vídeo que viralizou na internet de um tombamento na curva mais famosa da pista de Mônaco.
Em São Paulo, o Topolino provavelmente passaria apuros nas ruas, já que sua velocidade máxima é inferior à de muitas vias urbanas. As retomadas seguem um ritmo próprio, como um italiano desfrutando de um espresso após o almoço. Mas a posição de dirigir é incrivelmente boa, considerando a escassez de ajustes.
Fiat Topolino Dolcevita não tem porta-malas convencional; nicho acomoda, uma mala pequena
André Paixão e Marcus Celestino/Autoesporte
Ao contrário da Europa, onde o Topolino é visto como solução de mobilidade para grandes e congestionadas cidades, no Brasil será um brinquedo de gente muito rica. A própria Fiat parece não ter interesse em importar oficialmente o carrinho produzido no Marrocos ou tentar homologá-lo para que possa ser emplacado e vendido regularmente.
Bem que poderia rever a estratégia e pensar no Topolino como um produto que reforça a importantíssima identidade da marca. Principalmente no momento em que se prepara para abrir as comemorações de 50 anos de presença no Brasil. Esse pequeno faria um papel gigante por aqui.
Fiat Topolino Dolcevita
André Paixão e Marcus Celestino/Autoesporte
Fiat Topolino Dolcevita
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