Teste de 1982: Ford Belina impressionou ao fazer até 14 km/l com etanol


Quando ainda mantinha suas linhas anteriores, da primeira geração, a Belina contava com uma versão enfeitada com imitação de madeira nas laterais, bem do tipo Station Wagon americana, tentando conquistar – ou mesmo criar – um mercado próprio para as peruas familiares no Brasil.
Hoje as coisas estão bem mudadas, e a Belina II mais ainda. Não só entrou no mercado como foi tão bem-sucedida que agora o influencia. Uma das razões para isso é que a Ford soube usar de grande coerência no processo de adequação do modelo ao mercado, adiantando-se em requintes necessários e usando de equilíbrio nos demais quesitos.
A Belina II tornou-se um dos veículos mais procurados e, o que é muito importante, mais valorizados no mercado de carros usados. Penetrou com muita homogeneidade em capitais e regiões interioranas, tudo resultado da confiabilidade que foi angariando ao longo dos anos.
Para que se possa fazer uma avaliação correta de qualquer veículo, temos que considerá-lo em função de seu uso, sob pena de dar nota zero ao banco traseiro de um Ferrari Mondial 8 ou a mesma nota zero à aceleração de uma Kombi diesel. Como a Belina evidencia seus propósitos familiares como veículo versátil e econômico, sem pretender recordes em aceleração ou estilo, tamanho ou preço, consideramos as notas dadas (ao final da reportagem) tendo como referencial uma família e o que ela pode exigir de um carro.
Essencialmente familiar, Belina II LDO chegou a 147 km/h de velocidade máxima
Autoesporte/Acervo MIAU
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Economia absurda
Quando fizemos as medições de consumo a velocidades constantes de estrada, tomamos como errado o resultado obtido na primeira medição, a 80 km/h. Refizemos a prova e passamos, em virtude dos números alcançados, a prestar o dobro de atenção. E, a cada nova medição, mais uma confirmação.
Em todas as medições passamos dos 14 km/l, graças ao uso da quinta marcha, chegando, em seis medições, à excelente média de 14,3 km com apenas um litro de etanol! Transformando isso em dados mais reais para quem enfrentará uma estrada, temos um custo por quilômetro de Cr$ 3,64, ou Cr$ 3.640,00 para uma viagem de 1.000 km (cerca de R$ 327 em valores corrigidos até setembro de 2025 pelo IPCA). É claro que seria uma marca difícil de ser obtida em todas as viagens, uma vez que as condições mudam em função da estrada, horário, movimento e carga.
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Mas também em outras condições foram obtidos dados animadores – como, por exemplo, os números que indicam o consumo em cidade: 8,2 km/l para centro urbano, 8,8 km/l para bairros periféricos e 9 km/l para vias expressas.
O cômputo desses números, de acordo com a média ponderada de Autoesporte, resulta em 8,6 km/l para cidade, ou um custo/quilômetro de Cr$ 6,05 (R$ 0,54 em valores atualizados até setembro de 2025), um ótimo valor, sem dúvida. Em todos os resultados de consumo obtivemos números excelentes, razão pela qual a Belina II mereceu nota máxima nesse item.
Console com relógio digital do Del Rey e toca-fitas marcavam a versão LDO da
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As inovações para 1982
O ar-condicionado é a primeira novidade na linha 1982. Por meio de um pequeno painel de controle, situado na parte inferior esquerda do módulo principal de instrumentos, pode-se comandá-lo e receber ótimos resultados.
Apenas para fazer uso de um bom exemplo, estranhamos a ausência do desembaçador térmico para o vidro traseiro. Na primeira oportunidade que tivemos de enfrentar um embaçamento, ligamos o sistema que desembaça o para-brisa e o fluxo de ar, além de limpar a visibilidade frontal, foi, em pouco espaço de tempo, responsável por desembaçar por completo também o vidro traseiro. Demonstrou-se então que não seriam tão necessários os filamentos térmicos ali.
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Para enfrentar viagens ou mesmo o trânsito urbano com uma temperatura mais agradável em dias quentes, o sistema de ar-condicionado mostrou-se de rara eficiência, com temperatura agradável sem fluxo direto de ar – e a possibilidade de atuar em curto espaço de tempo.
Comandos do ar-condicionado da Ford Belina eram posicionados de forma que só o motorista conseguia usá-los
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No mesmo painel de controle está todo o sistema de ventilação, inclusive o ar quente, que funciona gradualmente. As saídas de ar são distribuídas em quatro venezianas de painel, com fluxo dirigível, sendo duas centrais e duas nas laterais. Oferecem também a possibilidade de bloqueio.
Para a melhora da atuação do sistema, foi implantada uma hélice de ventilação adicional em nylon, movida por motor elétrico, acionada automaticamente quando necessário. Ao entrar o compressor em funcionamento, um comando no acelerador registra um novo regime de marcha lenta, cerca de 750 giros a mais, para que a rotação não caia em excesso nas paradas de trânsito.
Aproveitando a referência ao conta-giros, há indicações de como usá-lo. Entre as marcações tradicionais de rotações e seu respectivo limite, encontramos uma zona verde. Começa pontilhada, passa à linha cheia e volta a ser pontilhada. É a faixa “econômica” de utilização do motor, melhorando na linha cheia e chegando ao ponto de economia máxima localizado em cerca de 2.750 rpm.
Suspensão mudou na Ford Belina 1982, mas o conforto continuou a ser a prioridade
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Outro acessório muito bom para a Belina LDO é o console central. Localizado em boa posição, contém um porta-objetos central com aleta divisória e porta-mapa do lado direito, de bom uso também como porta-revista. Pouco acima, o rádio AM/FM com toca-fitas e mais acima o relógio com calendário e cronômetro, o mesmo que equipa o Del Rey Ouro. A alavanca de mudanças fica pouco atrás, mais bonita e bem melhor de ser operada.
Ainda por dentro, a Belina II LDO ganhou apoios de cabeça, equipamento que a Ford tanto relutou, mas acabou adotando, no mais recente estilo europeu: em poliuretano expandido em forma de elemento vazado. Cumpre sua função, permitindo ainda que se melhore tanto a visibilidade quanto a sensação claustrofóbica dos modelos compactos.
Continuando com os novos equipamentos de segurança, temos agora o cinto inercial de três pontos de fixação com “ponto de relaxamento” que permite uma folga mesmo depois de regulado, evitando o atrito desagradável dos outros modelos.
O painel da Ford Belina 1982, simples porém eficiente, ganhou conta-giros no lugar do relógio
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E o retrovisor externo do lado direito agora também está equipado com comando interno, facilitando muito sua regulagem pelo motorista – vale lembrar que a maioria dos motoristas ainda faz uso incorreto desse precioso auxiliar de visibilidade pela dificuldade de regulagem. Também por dentro, o sentido de rotação das maçanetas de acionamento dos vidros foi invertido.
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Três importantes alterações mecânicas
A primeira delas, por ordem de uso, é a implantação de novos limitadores para a alavanca de mudança de marchas. Com isso os engates ficaram mais fáceis, os movimentos mais curtos e a tensão permaneceu a mesma.
A segunda das alterações importantes é a modificação da suspensão, tornando-a mais firme sem endurecer, e eliminando grande parte do balanço que ocorria em curvas em S ou irregularidades do solo. Nas curvas de maior velocidade, pode-se controlar melhor a trajetória, e a forte tendência a sair de frente, embora ainda permaneça, ficou menos acentuada. Pode-se, inclusive, “trazer” a traseira em casos extremos, recurso quase impossível anteriormente.
O emblema indicando o nome Ford Belina, estranhamente, ficava só nas laterais
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Como terceiro item pela ordem, mas talvez primeiro em importância, está o novo banho de níquel químico N28 que o carburador recebeu. Evitando em grande parte a corrosão, dispensa o uso de aditivos no etanol. Essa camada não pode ser aplicada antes porque a liga de zinco (zamac) do carburador não a aceitava. Um banho intermediário de cobre eliminou o problema e o aditivo, o que se transforma em grande vantagem a longo prazo.
Conclusão
Definitivamente, o que determina a vantagem de compra de um veículo é o quanto ele é completo para o uso a que se destina, como já dissemos no início da matéria. Os quadros de notas e medições se encarregarão de dizer o resto. Mas ainda vale a pena lembrar que são nos menores detalhes que a evolução de um modelo é avaliada.
No caso da Belina II, a alça de abertura da porta traseira é uma prova disso: ninguém deixaria de comprar o carro se não houvesse, pois até hoje muitos o compraram assim, sem ela. Mas este ano ela está lá, facilitando o manuseio da tampa, sem que o consumidor tivesse exigido isso da fábrica. Convenhamos, é um bom caminho.
Texto publicado originalmente na edição 206, de janeiro de 1982
Notas de Autoesporte
Ficha técnica – Ford Belina
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