Renault Kardian fará as pazes do Brasil com o câmbio de dupla embreagem?

Após fiasco do Ford Powershift, Renault traz projeto automatizado mais sólido ao Brasil e pronto para a eletrificação Às vésperas da chegada do Renault Kardian ao mercado (veja preços e versões aqui), um assunto antigo voltou a ficar em evidência. O SUV compacto será o primeiro carro nacional da marca com câmbio automatizado de dupla embreagem. E a primeira aposta em uma caixa automatizada desde que o antigo Easy-R, este com embreagem única, foi descontinuado em 2019.
Saiba-mais taboola
A Renault tem noção do desafio, devido à reputação dessa arquitetura no Brasil, mas está confiante. Mas, afinal, por que a imagem dos câmbios de dupla embreagem ficou tão arranhada? E, ainda, por que os automatizados podem voltar com força após quase terem sido dizimados? Autoesporte responderá essas e outras perguntas à frente.
Como funciona o câmbio automatizado?
Kardian tem “sacada” para evitar problema antigo dos automatizados
Divulgação
Um levantamento da Jato do Brasil revela que 40,4% dos carros novos são automáticos, 33,4% são manuais, 24,4% usam câmbio CVT e apenas 1,7% ainda oferece câmbio automatizado. Autoesporte já explicou as vantagens e desvantagens de cada tipo de transmissão. Clique aqui para conferir.
Os câmbios automatizados são essencialmente mecânicos, assim como os manuais, mas têm um comando inteligente robotizado para trocar as marchas e acionar a embreagem. “Os atuadores são responsáveis por identificar o funcionamento do carro para executar as trocas sem intervenções do motorista”, explica o professor de mecânica e consultor técnico da Autoesporte, Pedro Scopino.
Initial plugin text
Alguns carros, como o Kardian, têm sistemas automatizados de dupla embreagem. Neste caso, uma das embreagens é responsável pelas trocas das marchas pares, enquanto a outra cuida das ímpares. Esse sistema acaba com os incômodos trancos e a demora para troca das marchas nas contestadas caixas de embreagem única.
No passado, além da Renault, marcas como Volkswagen, Fiat e Chevrolet apostaram em câmbios automatizados de apenas uma embreagem (chamados I-Motion, Dualogic e Easytronic) para Gol, Fox, Idea, Bravo e outros. A grande vantagem era o custo de desenvolvimento que, por conta do projeto mais simples, acabava reduzindo o preço nas lojas.
Caso Powershift
Câmbio Powershift equipou Fiesta, EcoSport e Focus
Leo Spósito/Autoesporte
Nenhum caso foi tão grave para a reputação dos automatizados quando o que envolveu o Powershift. A própria Ford reconheceu as falhas, que poderiam ir de superaquecimento a trepidações constantes. Existe, inclusive, a acusação de que a Ford sabia dos problemas antes mesmo de lançá-lo no mercado.
+ Quer receber as principais notícias do setor automotivo pelo seu WhatsApp? Clique aqui e participe do Canal da Autoesporte.
Reclamações pelo mau funcionamento explodiram na internet a partir de 2014. Um megarecall foi convocado em 2016 para a correção dos problemas, mas a imagem do Powershift já estava queimada. Ao lançar o Territory no ano passado, a Ford fez questão de reforçar que o câmbio automatizado não tem nenhuma relação com a antiga caixa que equipou Fiesta, Focus e outros.
Golf trocou câmbio automatizado por sistema sequencial quando foi nacionalizado
Marcos Camargo/Autoesporte
Outra questão sobre a reputação deste câmbio envolve o Golf de sétima geração. O hatch importado da Alemanha tinha transmissão automatizada de dupla embreagem em 2014, o popular sistema DSG, que acabou substituído por um câmbio automático com conversor de torque quando a Volkswagen passou a produzi-lo no Paraná. Os custos de manutenção do câmbio automático Tiptronic eram consideravelmente menores.
Por que os automatizados eram problemáticos?
Câmbio do Renault Kardian tem embreagens banhadas a óleo
Divulgação
A resposta é simples. Os câmbios automatizados de Golf, Fiesta e tantos outros tinham embreagens secas, característica que aumentava o desgaste das engrenagens. Outros carros com transmissões banhadas a óleo não apresentavam o mesmo problema.
É aí que entra o Kardian. Além de derivar de carros europeus sem qualquer histórico de problemas ou complicações, como o Dacia Duster EDC, equipado com o mesmo câmbio há mais de dez anos, o sistema automatizado da Renault tem embreagens banhadas a óleo.
Ou seja, a manutenção preventiva é praticamente idêntica à de carros automáticos sequenciais, exigindo apenas a substituição do fluido. A embreagem banhada a óleo também costuma ter maior durabilidade e garantir um comportamento mais suave para o carro.
A Renault entende que alguns clientes podem torcer o nariz à primeira vista, mas confia que o câmbio automatizado é a melhor alternativa. Além disso, outras marcas, como Volkswagen e Fiat, já estão desenvolvendo transmissões automatizadas para o futuro — e o objetivo final das fabricantes é exatamente o mesmo.
Os novos híbridos nacionais
A adoção do câmbio de dupla embreagem vai tornar o desenvolvimento de carros híbridos mais acessível no Brasil. Afinal, por haver duas embreagens, existem dois “canais” para a entrega de torque ao diferencial, permitindo a instalação de um motor elétrico no powertrain.
Dessa forma, as rodas podem receber o torque derivado apenas do motor a combustão, só do motor elétrico ou da combinação de ambos. Isso não quer dizer necessariamente que o Kardian terá uma versão híbrida, mas ele já chega preparado para tal. Além disso, a Renault pode utilizar este mesmo conjunto em outros carros no futuro.
A marca francesa, inclusive, já confirmou que vai fabricar carros híbridos em São José dos Pinhais (PR). Portanto, acostume-se com a ideia de ter um carro automatizado no futuro, pois eles devem voltar a ganhar espaço.
Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital.
Mais Lidas

Fonte: Read More