O dia que a Audi transformou o Rodoanel em estrada sem limite de velocidade

Em 2009, marca alemã colocou jornalistas para acelerar o novo A6 em trecho de rodovia em construção Antes de falarmos efetivamente do evento promovido pela Audi nas obras do Rodoanel de São Paulo, em 2009, é preciso fazer uma breve explicação sobre a lógica dos eventos de lançamento de veículos para a imprensa. Sempre que um carro é lançado, tudo que sua área de Marketing e Relações Públicas deseja é que o evento de apresentação seja algo marcante, diferenciado — se possível, inesquecível, para que aquela “experiência” (usando um termo da moda) acabe, naturalmente, por transferir uma impressão positiva sobre o modelo que está sendo mostrado.
Nesse sentido, há uma certa lógica praticamente mandatória a seguir: é preciso que ocorra uma apresentação física, técnica e mercadológica, que exista um amplo espaço para a produção de fotos, vídeos e entrevistas e, é claro, que aconteça um test drive. Não se deve esquecer das necessidades paralelas, como alimentação, traslados, hospedagem etc. para cerca de uma centena de pessoas — às vezes, até mais.
Eventos de apresentação de veículos costumam ter área de produção de conteúdo
Divulgação
Isso acaba por restringir os eventos de lançamento a um roteiro sempre muito semelhante, seja qual for o carro ou a fabricante. A única variação mais flexível é o local do evento — que, de qualquer forma, precisa atender às exigências citadas, enxugando muito as possibilidades.
Quando o modelo é do segmento de luxo, então, a fórmula fica ainda mais difícil de ser alterada: obviamente, o lugar precisa refletir um ambiente premium, e aí hotéis cinco-estrelas ou restaurantes de chefs badalados sempre estão na lista dos preferidos e, inevitavelmente, escolhidos. É claro que esses locais são chiques e bacanas, mas não deixam de representar um lugar-comum para quem trabalha com isso todos os dias.
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Mas é claro que há as (raríssimas) exceções, que aproveitam alguma janela de oportunidade, desde que alguma mente criativa se disponha a tal. Eis que chegamos ao que a Audi fez em junho de 2009: simplesmente a marca conseguiu usar um trecho ainda em construção do Rodoanel Sul, em São Paulo, para lançar o então novo A6 (facelift da terceira geração do sedã).
Deslocamento até o canteiro de obras era feito de helicóptero
Divulgação/Acervo Miau
Tratava-se de um trecho de 1,5 quilômetro, nas duas direções (ou seja, um trajeto total de apenas 3 km), recém-finalizado: a pista era absolutamente nova, sem que ninguém tivesse rodado ali ainda. Nem mesmo as marcações de faixa haviam sido pintadas! A Audi não esqueceu o lado premium da “experiência”.
Os convidados chegavam primeiro a uma clínica de golfe (!) na Marginal Pinheiros, onde o próprio presidente da montadora, na época o brasileiro Paulo Kakinoff — que também presidiu a Gol —, apresentava o carro. Depois, seguia-se de helicóptero (!!) por 15 minutos até o local, em Mauá, na Grande São Paulo, próximo ao atual entroncamento do Rodoanel com a Avenida João XXIII.
Para o primeiro test drive do novo A6 no Brasil, em 2009, a Audi escolheu um trecho recém-construído e ainda não inaugurado do Rodoanel, próximo à cidade de Mauá, na Grande São Paulo
Autoesporte
Ali, em meio a diversas retroescavadeiras, tratores, rolos compactadores e máquinas afins como testemunhas, estavam à disposição dos jornalistas dois A6 novinhos com seus 290 cv e tração quattro prontos para serem guiados quase que à vontade por um asfalto virgem. Porém, para aplacar o ânimo dos mais exaltados, foram espalhados cones pela pista e cada carro contava com os pilotos de Stock Car Beto Gresse ou Giuliano Lossaco de carona, orientando os motoristas.
Divulgação/Acervo Miau
De um lado do trajeto, ocorriam provas de aceleração (zero a 100 km/h em cerca de 6 segundos), frenagem e slalom. Na hora de fazer o “retorno”, eram testadas estabilidade em curva e velocidade máxima, na casa de 200 km/h, no mais puro momento Autobahn — as rodovias alemãs sem limite de velocidade. Pena que, no caso brasileiro, a alegria só durava 1,5 quilômetro.
Experiência teve testes de velocidade máxima, de zero a 100 km/h e de estabilidade, além de passeio de helicóptero
Divulgação/Acervo Miau
Esperta, a Audi aproveitou toda a estrutura armada para levar ao Rodoanel não só jornalistas como também alguns clientes VIPs (donos de A4, A6 e A8). Estes ainda tinham os tempos de teste aferidos. Os mais rápidos ganhavam de presente um celular Sony Ericsson Xperia X1 prata (à venda, só existia o preto).
Após evento, carros usados no Rodoanel foram para a frota regular da Audi
Divulgação/Acervo Miau
Terminado o evento, os carros prosseguiram na frota da marca, e foram vendidos mais tarde. Enquanto isso, o trecho Sul do Rodoanel só foi liberado para uso normal quase um ano depois, em abril de 2010.
De lá para cá, o A6 avançou mais três gerações (a sexta, aliás, acaba de entrar em pré-venda no Brasil). Já o Rodoanel não ficou pronto até hoje: para o trecho que ainda falta, o Norte, a previsão atual é 2026, “só” dez anos atrasado em relação ao cronograma original. A obra, aliás, teve início há 27 anos, em 1998 — só quatro anos depois do lançamento do A6 de primeira geração.
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