O dia em que a Chevrolet foi à TV pedir que não comprassem o novo Corsa

Sucesso do hatch lançado em 1994 foi tão grande que havia quem pagasse até 50% de ágio para colocar um na garagem Não compre o Corsa. Para o bom entendedor, esse foi o recado dado em março de 1994 por André Beer no intervalo entre o Jornal Nacional e a novela Fera Ferida, na Rede Globo.
André Beer era vice-presidente da General Motors do Brasil, fabricante do Corsa, e se dirigia em rede nacional aos interessados na compra da novidade. “Não se precipite, ajude-nos a manter justo o preço do Corsa”, apelava. Preço justo, entenda-se, era o acordado entre governo e fabricantes para o programa do carro popular, equivalente a R$ 7.500 (o real começou a circular em julho de 1994). Em valores de hoje, R$ 94.625.
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O Corsa Wind 1.0 foi lançado em janeiro de 1994, mas só em fevereiro chegou às revendas.
A procura foi maior que a oferta e, para furar a demorada fila de espera, muita gente se dispunha a pagar até 50% de ágio pelo carro. Uma das alegações para a minguada produção era o gargalo na linha de pintura da fábrica de São José dos Campos (SP). Balela!
Relembre a trajetória do Corsa no Brasil
A realidade é que, contrariando as previsões dos departamentos de marketing e de vendas, o responsável pela linha de produção era cético em relação ao sucesso do Corsa. E, com aval da direção da empresa, não reforçou os pedidos de componentes aos fornecedores para a montagem do carro. Bastaram algumas semanas para que percebesse que havia errado no cálculo e tinha um grande problema nos ombros.
GM disse que gargalo era na linha de pintura; na verdade, empresa subestimou o sucesso do hatch
Ricardo Novelli/Autoesporte/Acervo MIAU
Um comitê de crise, formado por executivos da empresa e representantes dos revendedores, foi criado. E desse grupo veio a sugestão para que André Beer, um homem carismático, fosse à TV pedir paciência aos frustrados interessados. No dia seguinte ao anúncio, as revendas continuavam superlotadas. Outra decisão do comitê foi mais efetiva: a transferência das linhas de Kadett e Ipanema, modelos que dividiam com o Corsa a fábrica de São José dos Campos, para a unidade de São Caetano do Sul, no ABC Paulista. A solução só ocorreria em novembro daquele ano.
Comparativo de 1994: Chevrolet Corsa Wind x Fiat Uno Mille ELX
Não há números específicos disponíveis sobre o Corsa Wind, mas dados da GM informam que, em novembro de 1994, a produção das versões 1.0 e 1.4 (lançada em junho daquele ano) foi de 9.201 unidades. Ainda de acordo com o fabricante, 60 mil Corsas foram vendidos em seu ano de lançamento e 150 mil no ano seguinte.
Corsa foi revolucionário
Na época, Corsa enfrentava rivais antigos, como o Fiat Uno Mille
Ricardo Novelli/Autoesporte/Acervo MIAU
Para entender o rebuliço, vamos lembrar que os carros da categoria naquela época eram decanos desenhados com régua e esquadro. Estamos falando de VW Gol 1000, Fiat Uno Mille, Ford Escort Hobby e do próprio Chevrolet Chevette Júnior.
O Corsa Wind, originalmente um modelo Opel de segunda geração, quebrou padrões com suas linhas curvas. “Minha intenção era criar um carro que as pessoas tivessem vontade de abraçar”, disse Hideo Kodama, chefe de design da Opel, responsável pelo modelo. Sua inspiração, ele admitiria anos depois, foi o Peugeot 205. “O Corsa de primeira geração não atraía tantos olhares quanto aquele Peugeot, e eu entendi que o magnetismo vinha do formato da carroceria.”
Além do design, o Corsa oferecia outros atrativos: a inédita injeção monoponto AC Rochester, um acabamento impensável para um popular e conforto de rodagem. No Brasil, gerou uma família formada por sedã, perua, picape e a minivan Meriva. Saiu de linha em 2012, após 3 milhões de unidades produzidas e duas gerações. André Beer morreu em 2019, aos 87 anos de idade.
Corsa teve variações sedã, peria e até a minivan Meriva; segunda geração (foto), saiu de linha em 2012
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