Indústria de carros brasileira ainda corre o risco de parar por falta de chips


O risco de uma nova crise no fornecimento de microchips e semicondutores acendeu sinal de alerta na indústria automotiva global. Embora o risco de novas paralisações seja tangível, a retomada das exportações pela China pode aliviar os estoques e afastar o tenebroso cenário de 2021, quando todas as fabricantes foram afetadas pela falta dos componentes.
Quantos chips tem um carro? E por que a produção corre o risco de colapsar?
Em entrevista para a Autoesporte, o consultor Milad Kalume Neto, especialista no setor automotivo, afirmou que a retomada das exportações fez o risco do desabastecimento diminuir. Porém, o sistema ainda trabalha “no limite”, e qualquer desajuste nesta cadeia pode causar um novo colapso da indústria global.
“Houve a retomada das exportações pela China. É um risco já pequeno sob este ponto de vista. Mas a gente está trabalhando no limite — então, qualquer tipo de problema pode levar a um novo risco de desabastecimento”, afirmou Kalume.
Boa relação entre Brasil e China garantiu fornecimento de microchips para montadoras locais
Divulgação
A preocupação sobre uma nova crise de semicondutores começou após disputas entre Holanda e China. No mês de outubro, o governo holandês decidiu assumir o controle da Nexperia, que está sob comando do grupo chinês Wingtech. A decisão, motivada por questões relacionadas à propriedade intelectual, repercutiu negativamente em Pequim — e o governo chinês restringiu a exportação de peças eletrônicas.
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Indústria brasileira corre risco de desabastecimento?
O alinhamento entre os governos brasileiro e chinês permitiu que o abastecimento de chips para a indústria nacional continuasse, ainda que em ritmo mais lento que o habitual. Outros países, no entanto, seguem em estado de alerta. É um assunto monitorado por especialistas da área desde a pandemia de Covid-19.
“O mundo passou a ter esse entendimento a partir da pandemia, porque a produção foi a zero. Teve um problema sério de fornecimento dos semicondutores e a indústria acendeu o sinal amarelo”, explicou Milad Kalume.
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A indústria brasileira monitora de perto a situação do abastecimento. Apesar do risco atualmente ser menor, Milad Kalume chama atenção para os problemas subsequentes que se desenvolvem a partir da paralisação de uma fábrica.
“O problema está muito sério nesse sentido, quando se tem uma quebra na cadeia de fornecimento. A partir do momento que tem uma indústria quebra novamente, acaba tendo que gerar estoque. Se deixar de vender na ponta, deixará de faturar — e então férias coletivas começam a ser anunciadas. Se a retomada das férias acontece sem capacidade de produção, o passo número dois é o desemprego”, alertou o especialista.
Falta de microchips semicondutores causou colápso na indústria automotiva em 2020
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O Brasil ainda não tem uma alternativa de fornecimento em território nacional para lidar com a possibilidade de uma paralisação na produção de chips a curto prazo. Por outro lado, a China se mantém como uma das grandes produtoras e continua a exportar para países que necessitam dos equipamentos para continuar a operar no setor automotivo.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet, apontou, durante entrevista à CBN Autoesporte, que o problema em torno dos semicondutores é político. “Problemas políticos se resolvem politicamente. Não era um problema de mercado — então, a solução foi diplomática”, disse.
O executivo explicou que o governo brasileiro deu apoio para que a questão fosse resolvida diretamente com o governo chinês. A Anfavea participou dos debates para impedir que a produção brasileira fosse afetada.
Sistemas de assistência e segurança só funcionam a partir de chips específicos
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As exportações vindas da China seguem em ritmo mais lento que o habitual. “Temos várias empresas montadoras e sistemistas que receberam pequenas quantidades […]. Ganhamos sobrevida, por assim dizer. Então, muitos me garantem que temos capacidade suficiente para produzir até o final do ano”, afirmou Calvet.
As expectativas são incertas quanto ao primeiro semestre do próximo ano. Calvet pontuou que o início de 2026 ainda não está resolvido, mas disse que um desfecho positivo sobre a atual tensão entre China e Holanda pode, enfim, eliminar o risco de desabastecimento.
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Em relação às alternativas de fornecedores de microchips para o Brasil, Igor Calvet disse que existe uma busca para que não haja dependência de empresas chinesas. “São poucos os fornecedores no mundo. Há necessidade de encontrar algum investidor [interessado em impulsionar a tecnologia]. Não é uma dificuldade só do Brasil”, afirmou.
Apesar da circunstância negativa, o presidente da Anfavea espera que esses “estremecimentos do mercado” sejam um ponto de partida para investimentos em novas tecnologias no Brasil. “Temos capacidade de reinventar. Inclusive, às vezes achamos que uma solução é dada e que ela continuará assim eternamente. Por isso, falei da disrupção — precisamos de um empurrão para pensar em novas formas”.
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