Carro blindado usado: veja quando vale a pena e quando é fria

Raramente alguém dirá que proteção a bordo não importa, porém nem sempre uma blindagem cabe no bolso. Para isso existem os usados. Mas será que são uma boa ideia? Com o aumento da participação de mercado dos carros premium, é natural que a busca pela blindagem cresça da mesma forma. Segundo o último levantamento da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin), cerca de 300 mil veículos blindados circulam pelas ruas do país. Mas e quanto aos usados com a proteção balística, que são mais acessíveis ao público? Valem o investimento?
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Várias dúvidas surgem aos que procuram aprimorar a segurança a bordo, mas muitas vezes não podem (ou não querem) gastar quase o valor de um carro popular 0 km em uma blindagem.
Também não é nada reconfortante saber que o Brasil é, infelizmente, o líder do ranking mundial de homicídios, com a triste marca de 47.722 assassinatos em um ano (ou 10,4% do total mundial), conforme estudo divulgado pela ONU em dezembro passado.
Veículos blindados aprimoram segurança a bordo em país líder no ranking mundial de homicídios
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Como procurar um carro usado blindado?
O primeiro passo, segundo a Abrablin, é ter atenção não só com a escolha do veículo e com a da blindadora, como também com a verificação do registro do vendedor junto ao Exército, além de outras documentações exigidas pelos órgãos de fiscalização. Como a instituição militar é quem fiscaliza e controla os materiais balísticos que estão em circulação, ela estabelece que qualquer transação comercial deve ser registrada.
Gol, Onix e HB20 estão entre os blindados usados mais vendidos do Brasil
Quando saímos da parte burocrática, nos deparamos com variáveis que vão determinar se o carro usado blindado vale a pena ou não. Para ajudar a identificá-las, conversamos com Carlos Kumamoto, diretor comercial da W. Truffi Blindados, e Adalmo Vaz Mourão, especialista em seminovos blindados e proprietário da Auto Nobre Veículos.
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Para Mourão, carro blindado é questão de perfil. “O cliente desse tipo de automóvel deve ter conhecimento da antecipação de todos os prazos de revisões de pneus, freios, suspensão, entre outros componentes que sofram com o peso adicional da blindagem (que pode variar de 90 kg a 240 kg, dependendo do modelo do veículo e da tecnologia). Além disso, o carro ficará menos econômico, mais lento, bem como exigirá maiores cuidados do motorista ao volante com curvas, buracos e desacelerações”, alerta.
De acordo com Adalmo, da W. Truffi Blindados, veículos com essa adaptação se tornam menos econômicos e mais lentos
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Dito isso, o especialista passa a tratar sobre o que compõe o âmbito do mercado. Nessa etapa, avaliam-se os requisitos para determinar a qualidade da proteção balística empregada no automóvel, a sua retenção de valor e os impactos sobre sua liquidez.
“Um usado com uma blindagem recém-aplicada, ainda coberta pela garantia, costuma agregar valor ao veículo em comparação a um que não tenha tal proteção. Considerando apenas o investimento na proteção balística, é comum haver uma depreciação nos primeiros 12 meses, porém ela quase não representa nada. À medida que a blindagem e o veículo em si envelhecem, a depreciação total ocorre em proporções mais acentuadas, podendo chegar ao ponto em que um modelo sem proteção balística possua um valor de mercado superior ao mesmo modelo que passou pelo processo de blindagem”, explica.
Há outras nuances por trás da procura pelo blindado, como o especialista explica:
“Raramente, alguém sem interesse em um carro dessa categoria estaria disposto a pagar um valor adicional pela proteção balística. Apenas um grupo mais específico de pessoas a vê como algo realmente incondicional, e que se dispõe a pagar pelo custo adicional de manutenção de um veículo blindado”.
De acordo com o especialista, não são todos que estão dispostos a pagar pelo custo de se blindar um veículo
W. Truffi Blindados
De olho na idade da blindagem
Quanto à idade mais avançada da proteção balística, Mourão diz que a situação se complicar quando a blindagem completa 10 anos. Segundo ele, até mesmo o público mais cativo deste tipo de veículo começa a ficar receoso, ainda que muitas vezes isso ocorra de forma equivocada.
“Muitos acabam achando que a capacidade de reter disparos fica deteriorada, mas isso não acontece. Se o veículo passar por uma verificação técnica, continuará protegido”, observa.
Além do estado geral do carro, o especialista ressalta que o cliente precisa se certificar de que o valor pedido pelo veículo está compatível com a idade da blindagem.
Outro ponto de destaque é o estado dos vidros. Mourão explica que a presença de manchas ou bolhas (fenômeno chamado de delaminação) não comprometem necessariamente a proteção balística. Porém, como apenas a troca da peça resolverá o problema, é importante que seja aplicado um desconto proporcional ao custo de substituição daquela peça – cujos preços variam.
Mas esse problema com os vidros pode ser evitado ou retardado. O maior vilão dos vidros é a luz solar intensa. Por isso, para evitar a delaminação, é importante evitar manter o carro em locais descobertos por períodos prolongados.
Para o especialista, a blindagem deixou de ser um serviço apenas para carros premium
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Blindadoras buscam soluções convenientes para o público
As soluções oferecidas pelas blindadoras, por sua vez, acabam contribuindo para a comodidade do proprietário dos carros “à prova de balas”. Carlos Kumamoto, diretor da W. Truffi, faz uma diferenciação para o julgamento do blindado usado.
O especialista compara o usado já blindado com aquele que foi adquirido sem blindagem, mas que o proprietário pensa em adicionar a proteção.
Aos veículos deste último caso, a depreciação pelo avanço da idade da blindagem poderá demorar um pouco mais para chegar.
“Depois da pandemia, a procura por carros seminovos blindados cresceu. Isso gerou certa escassez no mercado, o que levou muitos proprietários a blindar o próprio veículo usado. Desde então, temos blindado alguns veículos seminovos todos os meses, pois dessa forma o cliente não precisa descapitalizar para investir em um modelo novo”, afirma Kumamoto.
“Uma recomendação para um bom negócio é que o cliente realize a compra junto a uma empresa que tenha condições de revisar o veículo e verificar se já não passou por algum reparo fora de uma blindadora. Já houve casos em que, na revisão, identificamos a falta de proteção balística nas portas, o que vulnerabiliza os ocupantes”, complementa o especialista.
O diretor da W. Truffi explica que a blindagem atual é resultado de décadas de evolução, tanto no âmbito dos materiais, quanto no da expertise que a montagem demanda. Hoje em dia, é possível utilizar menores quantidades de aço, algo fundamental para reduzir o aumento de peso do veículo e manter os níveis de proteção. A lei permite que o nível máximo de blindagem seja o 3A, capaz de reter projéteis de até 9 mm ou .44 Magnum.
Para especialista, o ideal é comprar usado blindado de empresa que tenha condições de revisar o veículo
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“As blindadoras chancelam o seminovo que está vendendo. Com isso, ela pode mitigar alguns dissabores, tais quais prevenir a falta de manutenção dos mecanismos dos vidros de portas e tampa traseiras, ruídos internos. Geralmente, uma revisão simples custa em torno de R$ 1.700 sem troca de peças”, diz.
“De todo modo, existe uma variação nos preços de peças de reposição, dependendo do que estiver precisando ser trocado. O mais habitual é a troca de vidros quando estão com delaminação, lembrando que o ministério do Exército não permite o reparo, apenas a troca do item. Os valores para isso podem variar entre R$ 7 mil a R$ 35 mil, dependendo do modelo do veículo e do nível de blindagem”, conclui.
Vale a pena ou é fria?
Assim como em muitos aspectos da vida, a resposta é “depende”. Um blindado usado é, antes de tudo, um automóvel usado. Ou seja, ambos partilham dos mesmos fenômenos, entre eles, serem mais baratos quando são mais antigos, mais caros quando mais novos, mais propensos a darem manutenção quando mais usados e vice-versa.
A questão principal é o fato de que a blindagem é um elemento potencializador no meio dessa equação, que, por sua vez, intensifica os fenômenos inerentes aos usados. O motivo é simples: a proteção balística adiciona mais peso e peças caras ao carro. Logo, é natural que o provisionamento e os cuidados devam ser maiores a um blindado do que a um carro comum, algo que se acentua à medida em que o comprador acabe ficando muitos anos com o veículo.
Quais cuidados você precisa ter antes de comprar um carro blindado usado?
Há também a questão da depreciação. Enquanto um carro convencional costuma depreciar mais nos primeiros anos e a curva vai estabilizando ao longo de mais anos, um modelo “à prova de balas” até agrega valor no início, mas chegará um ponto em que o veículo comum valerá mais do que o blindado. Mas nada disso importa aos que procuram segurança, tampouco interfere nas possibilidades de o comprador encontrar um bom negócio.
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