Após ficar cego, empresário viaja 2 mil km para andar em supercarros

Fã de carros vai do Espírito Santo até o sul do país viver experiência como passageiro de esportivos como Ferrari Portofino Não é preciso estar ao volante para sentir o ronco do motor 3.8 V6 biturbo de quase 600 cv de potência e sentir a pressão do tronco para frente com a aceleração do Nissan GT-R. É sentado no banco do passageiro, com o sol batendo em parte do corpo e uma das mãos enlaçada na alça de segurança que fica na lateral da porta, que Pedro Rangel deixa a emoção tomar conta de si ao pegar uma carona no esportivo.
O empresário natural de Vitória (Vitória) atua no ramo de transportes e locação de veículos. Ficou cego em abril de 2022, como consequência de um assalto que sofreu. Fã de supercarros, há alguns meses o empresário enfim realizou o sonho de finalmente andar em um carro superesportivo, mesmo já sem a visão.
Mas, antes de falarmos do passeio, uma passada pela história de Rangel. Não é preciso muito para compreender que, em seu caso, paixão e profissão caíram muito bem juntos.
“Minha mãe sempre trabalhou nesse ramo de transporte escolar e isso foi passando de pai para filho. Meus irmãos também atuam nessa área. Todo mundo [da família] trabalha com transporte”, conta.
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Paixão antiga
O passeio no superesportivo que causou tanta emoção remonta à paixão antiga por carros. Não é à toa que, para que essa experiência se tornasse possível, Pedro tenha tido que fazer um deslocamento de exatamente 2.186 km: distância entre Linhares (ES), onde Pedro reside com a família e Gramado (RS), um dos destinos mais famosos da Serra Gaúcha.
Capixaba é apaixonado por carros desde a infância e viajou mais de 2 mil km para andar em carros esportivos
Acervo pessoal
Isso porque é no Rio Grande do Sul que fica localizado o museu e loja Super Carros, que une veículos esportivos, de corrida, de luxo e simuladores, além de oferecer a experiência de poder dirigir ou andar de passageiro em um automóvel tido como “dos sonhos”.
Vale destacar que a viagem ocorreu no final de 2023, antes das enchentes que assolaram o estado mais ao sul do Brasil. Neste outro artigo, destacamos como veículos 4×4, aviões e barcos se tornaram elementos fundamentais no resgate de vítimas.
Voltando a falar sobre Pedro Rangel, esse não foi o primeiro encontro do capixaba com os modelos de motores potentes. Há 11 anos, o empresário visitou Gramado e foi até o acervo de veículos do Super Carros: “Por alguma circunstância, eu conheci a loja e não andei. Eu pensei: ‘Deixa, da próxima vez eu vou andar em uma Ferrari dessas’”.
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Reencontro uma década depois
É mais de uma década depois, no final de 2023, que o empresário, fã de motores desde criança, finalmente pode realizar o desejo de viver a experiência a bordo dos carros que sempre gostou. Nesse cenário, o Nissan GT-R não foi o único destaque da viagem de Pedro. Seu roteiro no Sul ainda incluiu andar nas Ferrari Portofino e Califórnia, no Porsche 911 e no Lamborghini Gallardo.
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O que mudou de lá para cá? A possibilidade de proporcionar essa experiência ao filho de seis anos, que carrega não só o nome do pai, como o interesse por carros. Ao mesmo tempo, a impossibilidade de pisar no acelerador, conduzir o veículo em uma curva fechada ou trocar de marcha marcam o momento.
Pedro Rangel compartilha a paixão por carros com o filho, que também se chama Pedro
Acervo pessoal
Pedro sofreu de isquemia no nervo óptico, como consequência da violência que sofreu em um assalto em abril de 2022. O empresário conta que perdeu muito sangue no ocorrido, o que causou falta de oxigênio na região e, consequentemente, a perda da visão.
“Eu fiquei quase dois meses entubado. Quando acordei, já foi sem enxergar e eu não entendia muito bem”, relembra.
Apesar de não se lembrar da circunstância exata que o fez desistir de acelerar um dos esportivos do Super Carros há mais de dez anos, é com riqueza de detalhes que Pedro conta as dificuldades do período de adaptação a um estilo de vida que nunca imaginou ter.
Em um primeiro momento, além da falta de visão, o empresário não conseguia andar. Nesse cenário, foi necessário iniciar tratamento com psicólogo e psiquiatra, além do uso de alguns remédios.
“Eu não me lembro se achei caro, se foi por falta de tempo, se estava com o voo apertado ou se disse ‘amanhã eu volto’ e depois não voltei…”, afirma o entusiasta sobre não se lembrar do motivo que o fez não viver a experiência com os superesportivo há anos atrás, quando ainda enxergava.
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Em contrapartida às dificuldades, a família se torna elemento fundamental. É Débora, esposa de Pedro, a responsável por levar o marido aos lugares. O empresário afirma sempre sair de casa acompanhado e ressalta receber ajuda dos cunhados e do sogro em alguns deslocamentos.
“Depois que eu sofri esse assalto, tive que mudar minha rotina completamente. A princípio, eu não saía de casa e só ficava com medo, mas com o tempo as coisas têm que voltar a caminhar”.
Débora é casada com Pedro, e faz parte da rede de apoio que o auxilia com os deslocamentos no dia a dia
Acervo pessoal
A tecnologia também é aliada nesse processo, e hoje, permite que a grande maioria das tarefas profissionais sejam realizadas em casa. Pedro destaca que o trabalho presencial só é necessário para participar de reuniões, e ressalta que “seus olhos se tornaram seu telefone”.
“Eu tinha uma vida muito ativa, rodava quase 2 mil quilômetros por semana trabalhando. Eu ia de um município a outro, era uma pessoa muito ativa. Na verdade, ainda sou, mas eu andava de carro pra cima e pra baixo”.
De fato, Pedro não deixou de ser uma pessoa ativa. Ele credita à fé o fato de não reclamar do que passou e seguir em frente, e se considera indigno de queixas, além da gratidão por ter tido sua vida poupada no ocorrido e estar com a família.
Se a paixão por carros mudou? Com certeza não. Os carros continuam sendo uma ferramenta de locomoção para Pedro e fonte de renda para sua família. Quando perguntado à respeito do modelo em que mais gostou de andar, Rangel surpreende e não hesita em mostrar sua preferência pelo esportivo da Nissan. E descreve assim sua experiência:
“O Nissan GT-R é o mais nervoso, mas cada um emite uma sensação diferente. O ronco da Ferrari, por exemplo, é diferente, principalmente para quem nunca tinha andado, assim como as arrancadas do torque da Lamborghini. No caso do Nissan GT-R, parece que você vai afundar no meio do banco na aceleração”, conta.
Ferrari Portofino é esportivo de 629 cv de potência que faz parte do acervo do Salão Super Carros na Serra Gaúcha
Divulgação
Apesar do desejo principal de dar um futuro melhor ao filho e garantir uma velhice tranquila, além de acesso aos tratamentos que sua condição exige, o desejo de ter seu próprio carro esportivo ainda existe: “Não sei se no padrão dos que eu andei lá, mas talvez na velhice eu tenha um superesportivo e contrate alguém para ficar andando comigo”.
A contratação de um profissional para servir de motorista tem um motivo: apesar do convívio com dois fãs de velocidade, Débora não gosta de acelerar quando está ao volante, mesmo após as tentativas do marido de convencê-la a comprar um veículo mais potente. A expectativa é que, daqui alguns anos, o filho do casal possa assumir a direção.
E já que o Pedro filho não pode dirigir o carro da família (por enquanto), fica para o pai o compromisso de alimentar a paixão em comum entre os dois. O empresário revela que o menino é fã do programa Auto Esporte, exibido na TV Globo aos domingos pela manhã. Acompanhar os episódios semanais é um passatempo dos dois.
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