Ford Mustang Mach-E é SUV elétrico que justifica o nome famoso; teste

Com dois motores elétricos e quase 500 cv, modelo é mais rápido que o cupê equipado com motor V8 a gasolina e o mais veloz da história da Ford no Brasil Usar o mesmo nome em carros diferentes ao longo de décadas não é novidade em uma indústria tão dinâmica como a automotiva. Mitsubishi Eclipse deixou de ser sinônimo de cupê esportivo para se tornar um confortável SUV. A Ford fez isso mais de uma vez. Arriscou ao trazer de volta a Maverick como picape e batizou como Mustang seu primeiro SUV elétrico.
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O Mustang Mach-E acaba de chegar ao Brasil por R$ 486 mil em versão única, GT Performance. Ao menos o pony car segue existindo com um V8 barulhento e encantador. De todo modo, não seria uma blasfêmia usar o nome Mustang para batizar um utilitário que sequer faz barulho? A Ford não pensa assim. Nem o público norte-americano. O Mach-E se tornou o segundo SUV elétrico mais vendido dos Estados Unidos, atrás apenas do Tesla Model Y.
Antes que você pense que o repórter é quem está fazendo a polêmica, é bom deixar claro que os leitores de Autoesporte alimentaram esse debate no decorrer dos anos desde a apresentação do carro, no Salão de Los Angeles de 2019. Muitos acham que faz sentido usar o nome e outros acham um absurdo atribuí-lo a um SUV elétrico.
Ford Mustang Mach-E é o carro mais veloz da história da Ford no Brasil
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Anda mais que o V8
O principal argumento da Ford para colocar panos quentes e calar a boca de quem reclama são os números. A versão oferecida no Brasil é a mais potente e completa de todas. Os dois motores elétricos desenvolvem 487 cv de potência e 84 kgfm de torque, suficientes para fazer o SUV acelerar de 0 a 100 km/h em 3,7 segundos. Trata-se do carro mais veloz da história da Ford no Brasil.
Supera com alguma folga o Mustang Mach 1, não só na potência, já que o V8 5.0 tem 483 cv, como também no desempenho. O cupê é 0,6 s mais lento na arrancada até 100 km/h, cumprindo a prova em 4,3 s. De quebra, o SUV elétrico é quase R$ 100 mil mais barato e ainda pode acomodar, com conforto, quatro pessoas.
Mustang até no visual
Nos Estados Unidos, há versões mais comportadas (leia mais abaixo sobre nosso teste em Detroit) que deixam mais quente a discussão sobre o merecimento do nome. Mas outro argumento da Ford para chamar o Mach-E de Mustang é o visual.
Ford Mustang Mach-E tem lanternas de LED divididas em três blocos
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É inegável que, na estética, esse é o SUV do Mustang. O capô cheio de vincos é comprido e poderia até abrigar um motor V8. Se não é esse o caso, a Ford fez um bom uso do espaço vago e criou um porta-malas frontal de 139 litros. Ainda na dianteira, os faróis de LED estreitos e inclinados dão uma cara agressiva ao SUV e fazem clara menção ao cupê.
Na lateral, não há nenhuma maçaneta. As portas podem ser abertas por meio de botões. O efeito estético é bacana, mas a explicação também está na melhor aerodinâmica. Por ter carroceria mais alta, também foi possível escolher rodas maiores de aro 20 — uma polegada mais que no muscle car.
Ford Mustang Mach-E tem porta-malas frontal com capacidade para 139 litros
Renato Durães
Logo acima da roda dianteira esquerda está o plugue do carregador tipo 2, que é de padrão europeu, o mais comum do mundo. Na traseira, as lanternas de LED são divididas em três blocos, assim como no Mustang V8, porém, com maior espaçamento e um filete horizontal que invade a tampa do porta-malas de ótima capacidade volumétrica: 541 litros. Viu como a Ford conseguiu transformar um SUV em um verdadeiro Mustang?
Interior e equipamentos
Por dentro, a esportividade deu lugar à praticidade. Os materiais são bons, mas só a parte superior do painel e das portas têm materiais macios ao toque — o resto é plástico, ainda que de boa qualidade. Sentando no banco nos deparamos com um volante que de esportivo não tem nada: é o mesmo do Bronco.
Ford Mustang Mach-E tem o mesmo volante do Bronco
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Salta aos olhos a enorme tela vertical de 15,5 polegadas da central multimídia, ao melhor estilo Tesla, mas com a interface prática da Ford. Há compatibilidade com Apple CarPlay e Android Auto sem a necessidade de fio. Há também carregador de celular por indução e seis entradas USB espalhadas pela cabine — dos tipos A e C. Já o quadro de instrumentos tem 10,2 polegadas e três modos de customização de tela.
Dimensões e espaço interno
Falando das dimensões, o Mustang Mach-E tem 4,71 metros de comprimento, 1,88 m de largura, 1,59 m de altura e 2,98 m de distância entre-eixos. Visualmente, o SUV até parece ser menor, mas supera, em comprimento, um Jeep Commander. O aproveitamento de espaço é muito bom, como costuma acontecer nos elétricos. No banco traseiro, até pessoas mais altas terão conforto nas pernas. Porém, o caimento cupê da coluna C deixa o conforto para a cabeça no limite.
Ford Mustang Mach-E tem 2,98 m de distância entre-eixos
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Combinando esportividade e versatilidade, o Mach-E também é recheado de itens de conforto e segurança, com destaque para os bancos dianteiros com aquecimento e ajustes elétricos. O motorista ainda dispõe de três slots para guardar a posição favorita.
Além disso, o Mach-E entrega nove airbags, teto solar panorâmico, ar-condicionado digital de duas zonas, freio de estacionamento eletrônico, câmera com visão 360 graus, som com nove alto-falantes, alerta de ponto cego, controle de cruzeiro adaptativo (quando o carro consegue identificar e se adaptar aos movimentos do veículo que está à frente) e frenagem autônoma de emergência.
Ford Mustang Mach-E tem teto solar panorâmico
Renato Durães
Pena que o recurso mais interessante tenha ficado restrito aos norte-americanos. Por não haver uma legislação específica no Brasil, a Ford não habilitou o Blue Cruise no Mach-E que chega por aqui. O assistente de direção é capaz não apenas de seguir o veículo da frente, mas também faz mudanças de faixa de forma automática (obviamente quando a manobra é segura).
Como anda?
Mas vamos ao que interessa. Uma leve pisada no pedal do acelerador e o motorista gruda no banco com a força do tranco. Na apresentação do Mach-E, a Ford fez questão de comparar o desempenho com rivais de peso: Porsche Taycan, BMW i4 e Audi e-tron GT em versões equivalentes. E o SUV norte-americano supera todos em uma arrancada. E faz isso com um ronco artificial interessante, mas dispensável. A autonomia também é superior à dos concorrentes. Segundo o Inmetro, o Mach-E roda até 379 km com uma carga.
Ford Mustang Mach-E tem 379 km de autonomia
Renato Durães
A tração é integral, com distribuição de força considerada ideal, ou seja, 50% em cada eixo. Essa característica, aliada ao baixíssimo centro de gravidade proporcionado pelo peso das baterias de 91 kWh alocadas no assoalho fazem com que o SUV nem pareça um SUV. Mesmo contornando curvas um pouco acima da velocidade, a carroceria rola pouco. E olha que estamos falando de um veículo de 2.157 kg.
Um pouco antes de testar o Mach-E GT Performance nos Brasil, tivemos a oportunidade de um test-drive mais longo em Detroit, casa da Ford. Mas a versão disponível era a intermediária Premium com um motor, tração traseira, baterias menores e “apenas” 270 cv.
Ford Mustang Mach-E tem rodas de aro 20
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Independente da configuração, são quatro modos de condução: Engage (para o dia a dia), Undrible (para uma condução mais esportiva), Undrible Extended (condução esportiva que poupa bateria, se é que isso é possível) e Whisper (para pisos escorregadios).
De todo modo, foi possível identificar o excelente trabalho da engenharia ao ajustar a direção, sempre precisa e obediente. A suspensão, mesmo nas ruas esburacadas de Michigan filtrou bem as irregularidades. Mas não há comparações em relação ao desempenho. Na opção “civil”, o Mach-E se parece com qualquer outro SUV elétrico bem acertado. E só.
Faróis de LED do Ford Mustang Mach-E são estreitos e inclinados
Renato Durães
Para a nossa sorte, apenas a versão GT Performance está disponível por aqui. E quem comprar o SUV elétrico também vai receber um wallbox portátil de 7 kW. A recarga da bateria de zero a 100% nesse cenário leva cerca de 14 horas. Em aparelhos ultrarrápidos de 50 kW, o tempo cai para menos de duas horas.
E sim, vamos encerrar o texto falando de recargas. Isso porque a Ford não apenas fez o Mustang passar por uma metamorfose e se transformar em SUV, como também escolheu um conjunto elétrico para o modelo. O cupê com motor a combustão deve continuar existindo por mais alguns anos, tendo em vista que uma nova geração acabou de ser lançada. Mas dizer que carros movidos a eletricidade são o futuro é um erro. Eles são o presente. Necessários. Nem por isso precisam ser chatos, como o Mach-E GT Performance nos mostra.
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