Por que preço da gasolina com mais etanol não caiu como o governo previa?


Desde que a nova gasolina com 30% de etanol na mistura foi aprovada, o governo federal antecipou que o preço do litro poderia cair em até R$ 0,20 nos postos. Entretanto, quem depende do carro percebeu que o desconto não chegou a tal estimativa, por mais que a nova mistura circule desde 1° de agosto. Em algumas regiões do país, o valor praticado sequer mudou.
Segundo levantamento de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, o preço médio da gasolina no Brasil passou de R$ 6,19 no período imediatamente anterior ao início da nova mistura, para R$ 6,17 na semana de 7 a 13 de setembro, data mais recente disponível. Ou seja, uma redução de apenas dois centavos no litro.
A partir disso, Autoesporte consultou dois órgãos independentes com conhecimento no assunto: o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), e o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). O objetivo é entender o que impede que o preço da gasolina tenha redução significativa.
Por que o preço não caiu tanto?
Variação no preço do etanol pelo aumento da demanda impediu descontos no valor da gasolina
Fernando Frazão (Agência Brasil)
Os especialistas concordam que houve otimismo por parte do Ministério de Minas e Energia (MME) na projeção de queda do preço com a gasolina E30, mas observam que a nova mistura tem eficácia em dois outros tópicos: descarbonização (como parte da Lei do Combustível do Futuro) e redução da dependência da gasolina importada.
O IBP acompanhou o cálculo do governo e observou que, enquanto a conta ministerial estimava redução de R$ 0,20 pelo litro — valor que depois caiu para R$ 0,13 nas projeções mais recentes —, os dados colhidos internamente na verdade mostravam um possível aumento de R$ 0,01. Segundo a Petrobras, a média nacional é de R$ 6,17.
Gasolina E30 tem “truque” para compensar maior teor de etanol na mistura
Etanol feito com lixo e resto de doces é melhor que o de cana? Comparamos
Gasolina E30: o que muda no combustível brasileiro com mais etanol?
Um dos tópicos que interferem na conta é que o etanol anidro ficou mais caro no período de adoção da gasolina E30, fator que, segundo Ana Mandelli, diretora executiva do IBP, tem relação com a lei da oferta e demanda. “Se vão precisar de mais etanol para produzir a gasolina, aumenta-se a procura […]. As margens são apertadas; é um negócio de escala em que tudo pode interferir no preço”, explica.
“O governo estava amparado e tinha os dados que apontavam a redução, mas não chegamos ao mesmo resultado. Podemos dizer que se tratava de uma análise mais otimista, e não de um erro de projeção […]. Além disso, o mercado de combustíveis é livre — o que torna este cálculo difícil de antecipar”, diz a diretora.
Os custos “ocultos” da gasolina
Para o especialista Pedro Rodrigues, do diretor do CBIE, a variação do preço é imprevisível. “No Brasil, os postos de combustível são livres para determinar o preço […]. Existem custos pulverizados no preço da gasolina que vão além do próprio valor do litro”.
Initial plugin text
A Petrobras disponibiliza uma plataforma online que mostra a composição do preço do litro da gasolina e quanto cada fator interfere na conta. É possível acessar tanto a média nacional — onde está precificada a R$ 6,17 — quanto o valor por estado, a depender da fatia do ICMS: em São Paulo o preço médio é de R$ 6,07, enquanto no Ceará chega a R$ 6,31.
Composição do preço da gasolina (média nacional em setembro/2025)
É neste ponto que, segundo Rodrigues, deve-se incluir ainda o próprio custo de operação do posto de combustível. “Um estabelecimento numa região valorizada terá custos elevados com aluguel, IPTU, eletricidade, quadro de funcionários, logística e outros fatores. Isso reflete no preço praticado: é o que explica a variação de valores na mesma cidade”.
Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital.
Basta dirigir alguns por alguns quilômetros para notar a disparidade. Em São Paulo (SP), a reportagem de Autoesporte encontrou postos negociando a gasolina por R$ 5,99 o litro na Zona Norte; porém, nos bairros nobres da Zona Oeste, o combustível chega a R$ 6,25.
Por que aumentar o etanol na gasolina?
Dois fatores motivaram a decisão do governo para o aumento do teor de etanol na gasolina de 27% para 30%:
Ambiental: a nova mistura de etanol deixará os carros menos poluentes, como comprovaram os testes conduzidos pela ANP. Todavia, não foi divulgado estudo sobre o impacto do novo combustível na redução dos gases de efeito estufa;
Financeiro: adicionar etanol à gasolina deixa o país menos vulnerável à flutuação internacional do preço do petróleo, negociado em dólar. O Brasil é autossuficiente em cana-de-açúcar e seus derivados, mas importa gasolina para abastecer o mercado interno.
Segundo estimativa do governo, a transição do E27 para o E30 evitará a importação de 760 milhões de litros de gasolina por ano. Ao mesmo tempo, o Brasil ampliará a produção nacional de etanol em 1,5 bilhão de litros e investirá R$ 9 bilhões no setor.
Mistura pode chegar a 35% no futuro
A proposta aprovada amplia o percentual de etanol para 30%, mas há planos para chegar a 35% nos próximos anos. O aumento está previsto nas diretrizes da Lei do Combustível do Futuro (14.993/24), aprovada no ano passado. “A legislação permite ampliar o limite de etanol na gasolina para até 35%, desde que comprovada a viabilidade técnica”, informa o comunicado oficial.
Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Autoesporte? É só clicar aqui para acessar a revista digital.
Mais Lidas
Fonte: Read More



