Teste de 1993: Kia Besta ousou desafiar a Kombi com mais sofisticação


Publicado originalmente no encarte Autoimports de julho de 1993
A recém-formada subsidiária brasileira da Kia Motors Corporation, segunda maior fabricante de automóveis da Coréia do Sul, pretende interromper o longo reinado da VW Kombi no Brasil. Nunca os consumidores, mesmo aqueles de faixa etária mais avançada — que testemunharam o início de nossa indústria automobilística —, tiveram opção de um produto tão ameaçador ao domínio das Kombi quanto os utilitários Besta.
Se, por um lado, o projeto alemão do pós-guerra revolucionou o conceito de transporte urbano, principalmente em aproveitamento.de espaço interno, economia e versatilidade, por outro, trata-se do veículo mais antigo fabricado no Brasil. Esse antigo quer dizer, no mínimo, 20 anos de atraso tecnológico, mesmo em relação às Kombi atuais fabricadas na Alemanha.
Versão testada foi a EST, a mais luxuosa da linha, para até 12 ocupantes
Autoesporte/Acervo MIAU
Para combater o veículo da VW, a Kia trouxe diversas versões dos utilitários Besta, de certa forma tão revolucionários quanto foi a Kombi há 44 anos. Se o nome original, Besta, não ajuda muito (vem do inglês beast, que quer dizer fera), o carro em si esbanja simpatia e bons argumentos técnicos, que deverão atrair muitos compradores.
A tecnologia empregada é da Mazda japonesa, que, junto com a Ford norte-americana, é acionista da Kia. O estilo do utilitário é limpo e moderno, com uma enorme área envidraçada e espaço interno absolutamente bem aproveitado.
Engenhoso acesso ao motor era um dos segredos para assegurar ótimo espaço interno
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O motor é um diesel quatro cilindros de concepção moderna, econômico, que vibra pouco e produz baixo ruído. Curiosa é sua posição, “dentro” do veículo, sob os bancos dianteiros. Esta solução permitiu aproveitar um espaço morto, comum em muitos utilitários, além de gerar, no mínimo, mais quatro lugares.
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Olhando para dentro do carro só se enxerga o painel e muitos bancos. Neles podem sentar-se até 12 pessoas. O acesso aos compartimentos traseiros é feito por uma grande porta lateral corrediça, enquanto na traseira outra porta, que se abre totalmente para cima, serve ao compartimento de bagagem. Esta porta deixa livre toda a largura e altura do carro.
Bancos reclinavam até formar uma cama, mas não eram de fácil remoção
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Na versão furgão, o acesso de carga é facilitado pela inexistência de degraus, o que permite transportar 1.200 kg em 5,2 m³ (5.200 litros) de volume. Nessa versão o nome Besta acaba se adequando melhor.
O carro testado, modelo EST, é o mais luxuoso da linha. Todas as janelas abrem-se para ventilação e as quatro fileiras de bancos têm apoios de cabeça e diversas regulagens. Eles basculam de tal forma que se pode mudar a configuração interna de maneiras variadas, de acordo com a necessidade. Poderiam ser ainda mais práticos se pudessem ser removidos facilmente, para a eventual acomodação de carga. Todos os bancos contam com cintos de segurança retráteis de três pontos.
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Kia Besta era muito melhor que a Kombi, mas custava quase o dobro do VW
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Originalmente, todas as versões do utilitário Besta vêm com direção e freios assistidos e comando hidráulico de embreagem. A versão EST traz ainda painel completo, com diversos indicadores luminosos, volante regulável de dupla posição, úteis espelhos auxiliares externos traseiro e dianteiro, para manobras de estacionamento (que dão visão do que está imediatamente à frente ou atrás do veículo) e alarme para cintos de segurança desatados, travamento de portas e luzes externas deixadas acesas.
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O bloqueio das portas é feito por um comando central na porta do motorista. No teto, três conjuntos independentes podem ser regulados para iluminação interna parcial, total ou direcionada. O vidro traseiro vem com limpador, lavador e desembaçador. O encosto do banco dianteiro central dobra-se para a frente, transformando-se em um console para pequenos objetos. Não há espaço perdido no veículo: um exemplo é o compartimento do macaco e ferramentas, situado na parede interna do estribo da porta lateral deslizante.
Painel bem completo e volante com regulagem, ainda que só em duas posições
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A suspensão dianteira é independente, por barra de torção, enquanto a traseira é por eixo rígido com um feixe de molas semielípticas em cada lado. A tração é traseira, mas o utilitário pode ser fornecido opcionalmente com tração nas quatro rodas.
O motor de 2.184 cm³ desenvolve potência máxima de 72 cv a 4.050 rpm e trabalha silenciosamente, jamais denunciando sua proximidade ao motorista. Para acesso ao motor, basculam-se os bancos dianteiros com facilidade. O próprio assento é a tampa do vão de abertura, sendo o compartimento devidamente vedado contra barulho e calor.
Tampa traseira abria-se totalmente, revelando porta-malas de bom tamanho
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Ideal para o transporte urbano de passageiros, a performance do EST Besta pode ser considerada muito boa, sem, contudo, impressionar pela velocidade ou por retomadas rápidas. É, no entanto, suficientemente ágil no trânsito das cidades, podendo fazer uma conversão num raio de apenas 4,2 metros. Na estrada ele deixa a desejar, perdendo um pouco da velocidade em subidas. Mesmo assim, chegou próximo de 130 km/h, valor adequado a esse tipo de veículo.
Outra vantagem como utilitário é o baixo consumo de combustível, média de 11 km/litro de diesel. Freios e estabilidade são condizentes com aquilo que o carro anda, oferecendo segurança suficiente. Como curiosidade, o Besta EST obteve aceleração lateral de 0,61 no skidpad, valor baixo, porém coerente com sua concepção. O único cuidado especial que deve ser tomado é ao ultrapassar ônibus e caminhões na estrada, quando o carro tende a ser perturbado pelos deslocamentos de ar laterais.
Estabilidade não era o forte, mesmo assim condizente com a proposta
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Atualmente, fora a Kombi, apenas o Chevrolet Traffic representa opção de escolha nessa faixa de mercado. O preço da Besta, dependendo da versão, vai de 17 a 25 mil dólares. Com relação aos concorrentes, o utilitário sul-coreano oferece mais conforto e conveniência, a um preço menor que o do Traffic, sendo um projeto absolutamente mais moderno e econômico que a Kombi (embora custe 90% mais que o VW). Mesmo assim, é uma boa relação custo/benefício.
Resultado dos testes – Kia Besta
Ficha técnica – Kia Besta
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